domingo, 24 de outubro de 2010

Galo de Copacabana vai parar na Justiça


Um galo vai a júri na próxima terça-feira. Pois é, o animal, que vive em um casarão na Rua Santa Clara, em Copacabana, está dando dor de cabeça para um vizinho. O bicho, chamado Natal — ele nasceu na mesma data de Jesus —, canta a plenos pulmões nas primeiras horas da manhã. O dono, o caseiro Elson Brasiliense, vai ver um juiz pela primeira vez na vida.

Elson foi intimado a comparecer à 12ª DP (Copacabana) no dia 28 de agosto.

— Até pedi desculpas para o inspetor, não sabia como me comportar. Nunca passei por uma situação dessas na vida — conta o caseiro, nascido e criado na cidade de Resplendor, no interior de Minas Gerais.

Agora, no Juizado Especial Criminal do Leblon, Elson e o advogado Leandro Nunes vão a uma audiência conciliatória. O objetivo dos dois é mostrar que o galo e mais duas galinhas recebem tratamento adequado, e que não incomodam a vizinhança.

— Todo mundo gosta do galo. Ele só canta, não faz mal a ninguém — defende o criador: — Gosto muito desses bichos.

No dia 25 de agosto, a Vigilância Sanitária Municipal esteve no casarão. No relatório da visita, constam boas condições de higiene e bons tratos aos animais. Mas, ainda assim, o órgão deu um prazo de 30 dias para que a criação de aves fosse interrompida. O decreto municipal 6235/1986 deixa claro: não pode haver criação de animais a 50 metros de distância de áreas residenciais.

Elson tinha outros seis galos e cinco galinhas no quintal, e acabou por se desfazer deles, para não pensarem que ele é um criador de aves. O advogado do caseiro afirma que os bichos são apenas
mascotes, como gato, cachorro ou qualquer outro mais comum. Mas esta relação, no entendimento da Vigilância, configura criação, não é doméstica.

Queridinho da vizinhança

Na vizinhança, a opinião é praticamente unânime: Natal não deve sair. Tem gente que já está pensando em fazer abaixo-assinado.

— Tem muita coisa na vida para a gente se incomodar. Moro de frente para o casarão, o canto do galo nunca me tirou a paz. O problema era quando tinha tiroteio no morro, e agora não tem mais. Vamos nos manifestar pela permanência do bicho — diz o aposentado Umberto Silva.

Até quem trabalha nas redondezas já pensou em aderir ao movimento.

— O galo é uma gracinha, tem muita gente que passa e tira foto. Eu mesma tenho a minha, no computador — conta a atendente de uma locadora, Mari Salomão.

O vizinho incomodado não estava em casa nem atendeu às ligações do EXTRA.

'Galo cantando não é motivo de incômodo', diz especialista

Segundo o especialista em direito imobiliário Hamilton Quirino, a polêmica do galo é bastante inusitada. Mas estar na justiça é um pouco demais.

— Acho que este vizinho não tem razão. Galo cantando de manhã não é motivo para incomodar, como uma buzina, por exemplo — opina.

Para Quirino, o fato gera estranhamento por estar acontecendo na cidade grande:

— No interior não tem vizinho reclamando de galo que canta.

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